Nem o tempo chuvoso de domingo, 13 de Setembro, conseguiu ensombrar a comemoração do 80.º aniversário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Cabanas de Viriato, apesar do incómodo que causou, sobrepondo-se a essa adversidade o reconhecimento prestado ao trabalho e à abnegação de homens e mulheres que se entregam diariamente à sua missão de socorro e protecção.

A par das medalhas e das condecorações atribuídas, esse reconhecimento traduziu-se também na presença do secretário de Estado da Administração Local, António Leitão Amaro, e de muitas outras individualidades autárquicas, militares, religiosas e civis, a par de alargada representação de outras associações de bombeiros, incluindo a de Carregal do Sal.

O programa comemorativo começou bem cedo com o hastear da bandeira, às 09h00, seguindo-se a romagem ao cemitério e a missa na igreja paroquial, ambas participadas por uma formatura de bombeiros e pela Banda Filarmónica, mas foi no velhinho salão do teatro do antigo quartel que as comemorações atingiram o seu ponto alto com a sessão solene presidida pelo Secretário de Estado e com as intervenções protocolares e as homenagens e condecorações guardadas para aquela ocasião.

Foi ainda debaixo de chuva, em plena rua, junto ao edifício do antigo quartel, que decorreu a imposição de medalhas a bombeiros com 5, 15, 20 e 25 anos de bons e efectivos serviços, assim como a revista do secretário de Estado à formatura de bombeiros que lhe prestou guarda de honra, seguindo-se então a sessão solene no salão do teatro, berço desta associação.

Além de António Leitão Amaro, estiveram na mesa de honra Rogério Abrantes, presidente da Câmara Municipal de Carregal do Sal, Lúcio Campos, comandante operacional distrital, José Requeijo, representante da Liga dos Bombeiros Portugueses, José Amaro Nunes, presidente da Federação de Bombeiros do Distrito de Viseu, Júlio Almeida e Sousa, presidente da Direcção da Associação dos Bombeiros de Cabanas de Viriato, Fernando Campos, comandante da respectiva corporação, e José Pereira Dias, presidente da Assembleia Geral.

Coube a José Pereira Dias abrir os discursos. Num agradecimento sentido, começou por recordar todos os bombeiros que “muito deram de si” para que se pudesse comemorar agora “este bonito número de anos”, prestando igualmente homenagem às muitas direcções e comandos que passaram pela associação. Prestou depois reconhecimento à actual direcção por o novo quartel se ter construído nos seus três mandatos, englobando também o comandante, por ter “acompanhado sempre todas as diligências” para a construção do quartel, e apontando-o até como “quem mais se empenhou” para que o mesmo fosse construído.

Orador seguinte, Fernando Campos ao recordar os anos que o ligam a esta associação, como bombeiro desde 1973 e comandante desde 2006, frisou que “foram muitas as dificuldades ultrapassadas, alguns sonhos concretizados”, só possível pelos homens e mulheres que o acompanharam e que “de forma voluntariosa e abnegada estiveram e estão sempre presentes”. Agradeceu-lhes, então, a compreensão, o apoio e o trabalho desenvolvido, assim como à Juvebombeiro e aos órgãos sociais pelo seu apoio e pelo trabalho em prol da associação. Dirigiu também “uma palavra particular” à esposa e à filha por tê-las privado “tantas e tantas noites” da sua presença. Por último, agradeceu aos colegas de Carregal do Sal, Canas de Senhorim e Tondela a disponibilidade em assegurar naquele dia o serviço da sua corporação, para que todos os bombeiros de Cabanas de Viriato pudessem festejar a data.

Por sua vez, o presidente da Direcção manifestou o “profundo apreço” pelo trabalho desenvolvido pelo comando e elementos do corpo activo, realçando a “enorme entrega e dedicação” com que têm contribuído “de forma decisiva” para a melhoria das condições de segurança e socorro às populações. “Eles são, de facto, a essência e a principal razão da existência desta Associação Humanitária”, salientou Júlio de Sousa. Seguidamente, falou das dificuldades em manter um corpo de bombeiros nos dias de hoje, face à escassez de apoios e recursos e ao facto de o papel social destas instituições ser cada vez mais exigente e complexo. Acentuou que de nada servem as viaturas, os equipamentos e o novo quartel se não houver homens e mulheres que, “através do seu exemplo”, contagiem a direcção e o corpo activo num efeito sinergético capaz de, “com maior facilidade”, ultrapassar as adversidades que se deparam. Manifestou também “grande regozijo” por o corpo activo ter estado nesta época estival em localidades distantes, como Caria, Terras de Bouro e Sabugal. “Ajudar a quem precisa é o nosso lema”, sublinhou. Por fim, dirigiu agradecimentos e reconhecimentos aos colaboradores assalariados da associação, ao presidente da Câmara, à Filarmónica e aos associados, amigos e benfeitores, dando particular destaque aos amigos dos Estados Unidos da América, ao Banco BIG e à Fundação Lapa do Lobo.

A sequência dos discursos foi interrompida para uma homenagem a Maria Gracinda Aguiar, única mulher que presidiu os destinos desta associação (1993 a 1996), traduzida na entrega de um ramo de flores, que a mesma agradeceu.

Retomados os discursos, José Amaro Nunes recuou no tempo para lembrar a cedência do salão do teatro pelo Grupo Dramático à Associação dos Bombeiros. Felicitou José Pereira Dias pela sua entrega de mais de 50 anos aos bombeiros e Maria Gracinda Aguiar pela coragem de presidir uma associação de bombeiros. Ao afirmar que Cabanas de Viriato tem orgulho na sua corporação de bombeiros e enaltecer o apoio da Câmara Municipal, salientou que importa olhar para os bombeiros como “o melhor serviço” que é prestado à comunidade. Depois de referir que a razão de ser da associação são os bombeiros, disse o presidente da Federação que os bombeiros “tudo fazem sem vaidade” e são os primeiros de uma “estrutura fundamental” de protecção e socorro às populações. Ao felicitar os bombeiros medalhados, rematou: “Que os vossos filhos e os filhos dos vossos filhos se orgulhem desta data!”.

Incumbido de entregar as medalhas da Liga e como que a justificar esse merecimento, afirmou José Requeijo: “Os bombeiros são a instituição mais representativa da nossa comunidade”. De seguida, valorizou a presença de Rogério Abrantes na cerimónia com a seguinte afirmação: “Hoje Cabanas de Viriato está mais feliz, mais contente e mais apoiada com a presença aqui do presidente da Câmara”. Dirigiu depois recomendações ao secretário de Estado no tocante à lei de financiamentos dos corpos de bombeiros, a apoios do governo às associações de bombeiros, à reposição da isenção das taxas moderadoras e à contagem do tempo de serviço para a Segurança Social. Falou também da responsabilidade que cabe às autarquias no incentivo ao voluntariado, atribuindo-lhes ainda o dever de diligenciarem a possibilidade de os bombeiros saírem do seu local de trabalho para exercer o voluntariado e de proporcionarem condições para que se fixem nos seus concelhos, por exemplo, com benesses no apoio à habitação e na redução de impostos.

Houve nova interrupção dos discursos para entrega de duas medalhas de serviços distintos, grau ouro, atribuídas pela Liga dos Bombeiros Portugueses, por proposta da direcção da associação. A primeira foi entregue pelo secretário de Estado a António Marques, antigo ajudante de comando, que ajudou a criar uma escola de bombeiros de forma a garantir a sobrevivência da associação num momento bastante difícil, devendo-se-lhe também a criação de uma escola de bombeiros do sexo feminino em 1972. A outra medalha foi entregue ao comandante Fernando Campos, que a recebeu com surpresa, também proposta pela Direcção, mas entregue pela própria esposa. Entre outros predicados, a atribuição da medalha foi justificada “pela forma como toma conta da casa dos seus bombeiros com a mesma entrega com que um pai cuida e protege os seus filhos e como um marido estima a sua esposa” e porque “conquista atrás de conquista nos bombeiros de Cabanas de Viriato tem a sua marca e o seu empenho”. Todos os elementos da mesa de honra receberam lembranças da Direcção nessa altura e também Carlos Rodrigues, administrador do banco BIG, foi contemplado com igual oferta.

Coube ao comandante operacional distrital (CODIS) retomar os discursos. Ao expressar reconhecimento pelo trabalho dos bombeiros desta corporação, o tenente-coronel Lúcio Campos considerou-os uma referência de nível distrital e nacional pela competência das suas equipas de reforço a outras corporações, contabilizando 16 reforços fora do distrito de Viseu. Destacou ainda a qualidade dessa participação fora do distrito de Viseu, o que tomou como uma “mais-valia para o distrito” e como prova de que os bombeiros do distrito de Viseu “estão ao mais alto nível”. Ao falar dos protocolos de segurança, pediu atenção aos acidentes de viação dos bombeiros, fazendo notar que não é só no ataque aos incêndios que se deve cuidar da segurança. Em palavras finais, incentivou os jovens a seguirem o voluntariado e salientou que os valores que lhes são transmitidos enquanto bombeiros “vão ser úteis para o resto da vida”.

Orador seguinte, Rogério Abrantes afirmou que a Câmara Municipal e o concelho de Carregal do Sal orgulham-se e reconhecem o mérito dos seus bombeiros voluntários. Manifestou, então, às duas corporações “elevada gratidão pelo esforço, dedicação, trabalho e desempenho humanitário” e o reconhecimento da generosidade e do altruísmo com que se entregam à causa pública. Associou a esses méritos a organização e o empenhamento das respectivas direcções, “que com imaginação e criatividade tudo imaginam e fazem para proporcionar aos corpos activos condições ímpares nestas lides”, referindo até que as associações não podem queixar-se do alheamento das suas comunidades, que, conforme disse, “têm sabido, como ninguém, compreender e apoiar as suas necessidades e os seus anseios”. Deu o exemplo dos amigos dos bombeiros, “daqui e além-fronteiras”, “aliados incondicionais”, dos quais destacou a Fundação Lapa do Lobo, o Banco BIG e os amigos nos Estados Unidos da América, e garantiu que o Município “não regateará esforços e, dentro das suas limitações, apoia e irá continuar a apoiar a nobre missão” dos bombeiros. Ao abordar a lei do financiamento das associações humanitárias, o autarca disse ao secretário de Estado que é importante reconhecer, “sem preconceitos”, que os corpos activos dos bombeiros voluntários “são os primeiros e principais actores da protecção civil, socorro e emergência”. Recordou as mortes dos jovens bombeiros Cátia Dias, Bernardo Cardoso e Luís Nobre e as mazelas de Nuno Pereira e José Sabino, para dizer ao secretário de Estado que “mudaram-se os tempos, mas não podem mudar-se as vontades quando se fala de voluntariado e de entreajuda”. Com isso quis também relevar que a comemoração dos 80 anos de vida da associação dos bombeiros de Cabanas de Viriato “deverá representar o orgulho de todos nós” e terá de servir de pretexto para se encontrar a união e a força para enfrentar aquelas adversidades. Disse ainda que a melhor forma de homenagear todos os soldados da paz, com ou sem farda, “nomeadamente aqueles que já não estão entre nós”, é “honrar o legado humanitário concelhio que, de geração em geração, tem vindo a ser consolidado e aperfeiçoado, recordando então o desaparecimento recente e prematuro do comandante Melo.

Ao encerrar os discursos, o secretário de Estado teve palavras de apreço para com a Fundação Lapa do Lobo e o Banco BIG. Sendo natural do Caramulo, conforme fez questão de referir, disse que se apercebeu de como os bombeiros de Carregal do Sal “levaram para lá do limite o mote vida por vida, dando mais aos outros do que cuidar de si”. Afirmou: “Todas as palavras de reconhecimento que se possam dizer são poucas para alguém que cuida mais dos outros do que de si próprio. Por isso, é com muito gosto que aqui venho, em nome do governo, dar-vos um reconhecimento muito sentido”. Relativamente à acção do governo perante as necessidades e as ambições dos bombeiros, frisou que durante estes quatro anos havia que escolher prioridades e que foram resolvidos os principais problemas “que estavam de há muitos anos”. Sustentou: “Não era favor, era sim uma justiça”. Depois disso, abordou, além de outros assuntos de interesse para os bombeiros, a resolução do problema dos seguros, o sistema de transportes, os fundos comunitários, a nova lei da protecção civil e a nova lei de financiamento.

Finda a sessão solene, foi descerrada pelo secretário de Estado e pelo comandante dos Bombeiros uma placa de registo da visita daquele governante ao salão do teatro. Outra placa foi descerrada no quartel novo pelo presidente da Câmara e pelo presidente da Direcção, comemorativa do aniversário, seguindo-se o almoço de convívio, que incluiu nas sobremesas a partilha do bolo de aniversário, reforçando a dignidade com que foram festejados os oitenta anos de existência desta valorosa corporação.

Lino Dias

MEDALHAS

Por proposta do Comando datada de 13/07 e aprovada pela Direcção em 20/07/2015, receberam a medalha de assiduidade os seguintes bombeiros:

Grau Cobre – 5 anos de bons e efectivos serviços

Ricardo Filipe dos Santos Bernardo

Marco António Soares Laranjeira

Tânia Filipa Sousa Gomes

Ana Margarida Sousa Fernandes

Grau Ouro – 15 anos de bons e efectivos serviços

Nuno Ricardo Santos Barros

Inês Rodrigues Ramos Pereira

Grau Ouro – 20 anos de bons e efectivos serviços

João António Pereira Fidalgo

Humberto Marques Nunes

Isabel de Sousa Campos Fortunato

Maria Helena Fernandes dos Santos

Pedro Nuno Abrantes Abreu

Dedicação – 25 anos de bons e efectivos serviços

Manuel da Silva Marques

Luís António Abrantes Abreu

Mário Artur Gomes Campos

João Bernardo Dias Fernandes

Nuno Pedro Pessoa Tavares

António Gomes Campos

Júlio Manuel Dias Fortunato

José Pedro Dias Borges

João António Pereira Fidalgo

Mário António Borges

Vasco Manuel Borges Lopes

António José Loureiro Simões

Fernando José Coelho Pessoa da Silva Campos (comandante)